como criar uma relação (mais) saudável com o celular
também conhecido como: "pra gente não começar uma revolução offline"
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na virada do ano, lembro de pensar ‘esse ano é meu!’ tal qual toda e qualquer protagonista de comédia romântica dos anos 2000. eu tava esperançosa, animada, focada em tirar os meus planos e objetivos do papel e fazer alguma coisa da minha vida.
porém, tal qual toda e qualquer protagonista de comédia romântica dos anos 2000, poucas semanas depois eu já tava pedindo arrego de mim mesma, com uma crise de sinusite bravíssima, uma TPM pior ainda e uma vontade de existir equivalente à temperatura lá fora (−20 °C).
o que ninguém te conta sobre morar no Canadá é como a sua alegria de viver chega a níveis nunca vistos quando tudo é um mar de branco e cinza. o tal do winter blues (ou depressão sazonal) é real demais. por mais que, sim, a vida continua mesmo com temperaturas negativas, fica meio difícil ser feliz quando você não vê o sol há mais de duas semanas.
tudo isso pra dizer que eu e meu celular nos tornamos um único borrão que, entra dai, sai dia, não se descola nem focaliza. voltei com o hábito horrível de scrollar sem motivo, vendo vídeo atrás de vídeo atrás de vídeo atrás de vídeo - e a minha obsessão com ‘Tempestade de Ônix’ não ajudou.
(eu preciso saber de todas as teorias, afinal.)
(se você leu esse livro, pelo amor de tudo o que é mais sagrado, vamos conversar?)
enfim, acho que deu pra entender que o tamanho da minha raiva pela mudança das políticas da Meta se tornou proporcional à minha capacidade de me manter apática e presa num loop algorítmico essas semanas.
eu tô tentando, gente, juro.
não se sinta mal, meu bem
tem um bom tempo, alguém postou no notes que se sentia envergonhado por não ter o autocontrole necessário pra se manter fora das redes sociais e fazer o que queria fazer. eu simpatizei, sabe, se tem uma coisa que eu sinto quando esse é o assunto é a perda total de controle.
de fato, somos viciados.
a incapacidade me toma por completo quando penso que eu posso fazer muita coisa menos me livrar realmente do vício frenético de rolar o dedo pra cima numa tela e obcecar por números que não vão ter qualquer importância quando eu morrer.
aqui jaz maki de mingo
ela tinha 5 mil seguidores no Instagram.
certamente, não é isso que a minha lápide vai dizer (eu espero) (não quero ser enterrada, deus me livre). e de fato, nada disso importa quando a gente olha pro quebra-cabeça montado, mas a real é que independente dessa reflexão aleatória, sentir vergonha por não conseguir vencer um vício não é aceitável.
pense no açúcar, por exemplo.
eu nunca fui de comer fast food e salvo o meu amor por pão fresquinho, a minha batatinha Lays e os meus M&Ms de amendoim, eu sigo uma alimentação razoavelmente saudável e bonitinha há anos. suco verde de amanhã e a p*rra toda.
nem açucar refinado eu tenho em casa.
porém, há uns 3 anos topei um experimento: com o acompanhamento de um especialista em nutrição e saúde intestinal, faria um ‘recalibramento alimentar’ (pra não dizer detox) e escreveria uma matéria sobre pra um determinado veículo de mídia brasileiro.
os primeiros três dias do processo (que durava três meses e era dividido em três fases) eram compostos por uma dieta crudívora: eu só poderia comer alimentos crus. a quantidade ficava a meu critério, não tinha restrição, mas as refeições (eram 6 no dia) precisavam ser respeitadas em termos de horário e alimentos a serem ingeridos. pois bem, no segundo dia, eu achei que ia morrer.
enjoo, uma dor de cabeça absurda, dor no corpo, irritabilidade… falei pra mim mesma que se continuasse me sentindo daquela forma eu pararia imediatamente e retomaria a minha alimentação normal. no dia seguinte, correndo o risco de passar mal antes mesmo do café da manhã, lembro de estar no banheiro com o copo do suco que eu tinha pra tomar, parte daquela refeição, pensando ‘deus me ajuda eu vou morrer nesse banheiro’.
por algum motivo, tomei um gole do suco, depois outro, e meio copo depois tudo passou.
encucada, perguntei pro médico o que aconteceu, e ele disse: ‘você não acha curioso passar mal nesse nível comendo só frutas e legumes?’.
acho, sim, seu doutor. cê tem razão. o que rolou?
‘abstinência. da quantidade de açúcar e outros elementos nocivos que a gente encontra nos alimentos, principalmente os industrializados.’
bacana.
não conto essa história nem exponho aquela manhã horrorosa à toa, mas a gente é mais viciado do que imagina e nem toda droga é ilícita (ou lícita, no caso do álcool e até alguns medicamentos).
existe uma quantidade absurda de gente trabalhando dia e noite (alguns literalmente) pra criar aplicativos e mecanismos tecnológicos que geram vício. eu já falei desse cara um milhão de vezes por aqui, mas o Jaron Lanier explica nesse TED Talk como o movimento de puxar a tela de cima pra baixo, típica do scrollar, foi inspirada nas máquinas de caça níquel, aquelas que você encontra nos casinos.
e que, sim, também podem gerar vício (eu ouvi ‘tigrinho’?).
não só isso, mas as cores, as funcionalidades, as métricas de vaidade (como os likes) moldaram o nosso comportamento e mudaram o nosso discurso e nos tornaram dependentes. os efeitos tão aí pra quem quiser ver: depressão, ansiedade, solidão… a lista é longa. a gente perde muito com a internet.
por outro lado, a gente tem benefícios: a democratização da informação, a acessibilidade, vozes que antes eram suprimidas agora têm espaço e audiência pra colocarem os seus pontos de vista. a gente também ganha muito com a internet.
e, sendo realista, a desconexão completa é uma ilusão. tem pequenos negócios que dependem do Instagram. escritores que fizeram carreira no Substack. grupos de Facebook que conectam pessoas com interesses comuns (aqui na América do Norte, acredite se quiser, ainda se usa muito). vídeos incríveis e super educativos no YouTube.
carreiras inteiras foram construídas sobre a internet (inclusive a minha), e eu sinto que, assim como com qualquer dieta restritiva, o evitamento completo não é a solução - ninguém quer viver um efeito rebote.
então, minha gente, como a gente faz pra criar uma relação (mais saudável) com o celular?
criando uma relação (mais saudável) com o celular
assim como muita gente, eu também tenho vontade de jogar o meu aparelho celular na água. infelizmente, não é o melhor a se fazer por muitos motivos, né, então, tenho refletido como posso retomar as rédeas da minha vida (eca) e manter um pouco mais de sanidade no meu dia a dia.
se você precisa disso também, pega na minha mão e vamos juntas. quem sabe a gente se motiva a tornar uma situação ruim um pouco menos pior.
tire as sugestões de aplicativos. se você tem um iPhone (é o meu caso), dá pra você tirar as sugestões de aplicativos mais acessados quando você ‘puxa’ a tela pra baixo pra fazer uma pesquisa. aqui ensina, ó. não tornou impossível abrir o Instagram, mas dificultou o processo um pouco mais, o que ajuda. (nem preciso falar que não tenho o app nas telas iniciais, né?)
usar as redes sociais no computador. salvo o Instagram (eu ainda preciso por causa dos stories), eu só uso redes sociais no meu computador. falo aqui do Substack, porque eu parei de usar o TikTok e deletei a minha conta do Threads.
tratar redes sociais como o trabalho. eu tô trabalhando (risos) pra implementar isso aqui: usar as redes só no horário comercial e tirar o meu acesso depois das 17h. e, mesmo assim, ter horário pra olhar e interagir - se não, haja procrastinação do meu trabalho de verdade, né?
tirar o celular de vista. lembra quando eu escondi meu Kindle no closet? pois é, meu celular voltou pra lá. na verdade, ou ele tá no closet, ou na bancada da cozinha enquanto eu trabalho. qualquer que seja a opção, ele fica longe de vista e a tentação é bem menor.
ter uma ‘zona livre de celular’. meu celular não entra no meu quarto. e ponto final. graças aos céus esse é um dos poucos hábitos que eu não quebrei. mas uso o relógio como despertador (tenho um Apple Watch) e um aparelho antigo sem acesso à internet com um ‘alarme de segurança’ caso o relógio não me acorde. o sofá da sala também tá virando esse espaço. só sento ali com um livro ou pra ver TV, ou pra dar atenção pras visitas.
procurar um hobby manual. eu falho bastante aqui, viu. mas tô tentando também. ganhei um book nook de Natal e penso que esse pode ser um ótimo hobby. também tô maluca pra começar a crochetar e acho que esse vai ser o meu hobby de fevereiro, o pior mês de inverno por aqui (na minha opinião).
agendar tempo de tédio. mesmo que você use o celular pra marcar o tempo, sabe? também já falei um monte sobre isso. você me avisa se quiser que eu falei mais?
é engraçado: eu trabalho no computador o dia inteiro, mas o sinal que grita ‘redes sociais’ na minha mente é o celular. claro, eu já me vi várias vezes acessando as redes pelo laptop, mas tem menos força e eu canso mais rápido do que se tivesse no meu iPhone. então, deixar o celular longe é, mesmo, a melhor pedida.
fora que tenho um trabalho que é independente das redes, então, se não fizer meu trabalho durante o horário de trabalho, as consequências são muito maiores. como todo ser humano, porém, eu também preciso de uma pausinha e é aí que ‘tratar redes sociais como trabalho’ entra em cena.
essa é uma lista que com certeza vai curar o nosso vício e salvar o mundo???? claro que não. infelizmente, tem forças muito maiores do que euzinha trabalhando pra manter a gente aprisionada ali dentro, mas pode ser um primeiro passo pra você entender o que funciona pra você, sabe?
não vou mentir, a terapia me ajuda muito. porque a falta que eu sinto (e que tento suprimir com o celular) é de conexão humana, de conversa, de olho no olho, cafuné na cabeça, abraço apertado depois de um dia ruim. eu sinto falta de afeto e rede nenhuma vai conseguir substituir o carinho humano.
então, eu preciso reconhecer as redes como a distração que são. não só das tarefas que tenho pra fazer, mas dos sentimentos que sinto e das dores que finjo não existirem quando eu passo 1h30 vendo vídeo de teorias sobre ‘Tempestade de Ônix’ na aba Reels do Instagram. encarar cada um de frente e com coragem, acredito eu, é a única solução nesse caso.
tenhamos coragem, então.
é isso por hoje.
se cuida e fica bem,
quando rola sincronicidade no que a gente precisa pra viver melhor
nossa, eu tava precisando de um texto assim, Maki. A gente passa tanto tempo nessas telinhas né?