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gostaria de não me expor (de novo) na internet e dizer que me preocupo muito com a percepção que as pessoas têm de mim (é verdade), mas pelo bem desta newsletter eu também acredito ser necessário.
hoje, eu escondi o meu Kindle no closet.
e, veja, eu também adoraria dizer que uma Mulher Adulta como eu não precisa recorrer a uma atitude tão infantil pra sair de um looping autodestrutivo. mas eu tenho percebido que a noção de Vida Adulta é uma construção social como qualquer outra e somos todos crianças que não tem ideia alguma do que estão fazendo com as próprias vidas.
quem diz que sabe provavelmente está mentindo.
mas, sim, é isso mesmo. eu precisei esconder o meu Kindle de mim numa tentativa de me concentrar nas Responsabilidades que eu tenho a cumprir e ainda na vontade bastante profunda de Colocar a Vida em Ordem.
quem sabe o uso de maiúsculas me ajude a entender a gravidade da coisa.
(não ajudou.)
identificando um problema
quando eu parei pra pensar no assunto da newsletter dessa semana, a pergunta que eu me fiz foi “o que eu aprendi nos últimos 7 dias que podem ajudar alguém a ter um amanhã mais criativo?". e por mais que a minha vontade consciente fosse falar um pouco mais sobre os meus processos de escrita, eu percebi que estaria mentindo (muito) ignorando o grande elefante na sala.
um elefante barulhento e possessivo chamado fanfics.
a minha admiração por essa arte é de longa data (escrevi sobre isso tem pouco tempo, inclusive), e eu já passei muitas madrugadas acordada lendo histórias como essas na minha adolescência. mas, como também comentei por aqui em algum momento das últimas semanas, recorrer a esse recurso foi a minha maneira única de me dissociar da realidade e proteger a minha mente num momento de dificuldade.
entenda, a “dificuldade” não precisa ser um Grande Obstáculo da Vida, mas aquele momento em que você se sente mais fragilizada, querendo colo, só buscando uma direção mesmo. pode ser uma tentativa de lidar com o cansaço exagerado, um mecanismo de fuga que te faz sentir, de certa forma, acolhida e protegida.
eu já tive muitos mecanismos parecidos com esse. quando não eram as fanfics era a caminhada, e eu andava mais de uma hora pra levar mais tempo pra voltar pra casa depois da escola. ou então a leitura, e eu devorava um livro depois do outro num loop. ou eram as séries de TV (eu maratonei entre 6 e 7 temporadas de Bones em algumas poucas semanas).
cada um tem o seu mecanismo de fuga de escolha.
e, sim, todo mundo precisa de uma forma de descompressão, de um hobby ou aquela atividade que ajude a liberar a tensão do dia e, de certa forma, colaborar pro nosso bem-estar geral. não só é normal como indicado. a gente precisa disso mesmo.
o problema começa, a meu ver, quando esse hobby, essa história, essa coisa aluga um triplex na sua mente e você não consegue pensar em mais nada a não ser naquilo. e a sua rotina passa a sofrer com a necessidade constante de descompressão.
eu diria que esse é o mecanismo básico de um vício e, vamos combinar, todos nós temos um.
a diferença é que alguns são considerados mais socialmente aceitáveis que outros.
(isso sem entrar na questão da saúde, né?)
ligando os pontos
foi pensando sobre isso que eu comecei a entender melhor uma questão que eu falo sempre por aqui: a conexão consigo. eu vivo batendo na tecla de que criatividade é conexão consigo, com os outros e com o mundo, e a cada novo aprendizado, parece que esse conceito fica ainda mais tatuado na minha mente.
a princípio, parecia só que eu tinha finalmente reencontrado algo que eu gostava muito de fazer – a leitura – explorando universos que são muito nostálgicos e acolhedores pra mim. porém, olhando mais de perto, era bem óbvio que eu tava buscando uma maneira de me fechar no meu mundinho e evitar novos desconfortos.
uma amiga postou nos stories, certa vez, uma imagem que dizia algo nos moldes de “eu trabalhei duro pra encontrar a minha zona de conforto, por que eu vou querer sair daqui?".
é meio isso que eu tenho sentido.
ao mesmo tempo, criatividade é conexão com o mundo, e a falta de contato com o externo deixou as vozes na minha cabeça altas demais.
comportamentos extremos nunca são positivos, e eu acho que quanto antes a gente perceber um padrão autodestrutivo, melhor. pedir ajuda pra lidar com isso, a meu ver, é melhor ainda e eu sou e sempre serei a favor da terapia pra todo mundo.
por outro lado, isso me fez refletir que eu poderia pegar esse comportamento e colocá-lo embaixo de um microscópio, pra entender o que eu posso tirar de positivo dessa experiência.
ou seja, usá-la pra me entender mais e me conhecer melhor.
o meu Kindle tá escondido no closet.
eu sei que ele tá ali. mas eu precisei tirá-lo de vista tal qual criança com doce porque eu precisava recuperar um pouco de sanidade pra fazer o que eu preciso fazer, pra encontrar coragem pra cumprir com as burocracias da vida.
elas parecem bem mais difíceis do que a realidade, eu sei.
e, ok, eu não sou uma grande vítima do universo, muito menos a única a passar por dificuldades e momentos de grande indulgência. mas, de novo, eu tenho uma tendência a pensar demais sobre tudo e escrever (longuíssimos) textos sobre o assunto.
as conclusões às quais eu cheguei foram:
não existe tempo perdido
esse insight me veio quando uma amiga comentou que não queria passar um dia dormindo depois de uma semana estressante no trabalho porque era “tempo perdido”. e na hora me veio que, opa, se o seu corpo tá precisando dormir um dia inteiro, será que esse tempo foi perdido ou, pelo contrário, muito bem utilizado? gestão de tempo é um assunto complexo, mas a gente tem o costume de ignorar os sinais do nosso corpo e da nossa mente e passar por cima das necessidades de descanso e descompressão (pelo visto, essa é a minha palavra do dia). então, na realidade, o tempo gasto dormindo/lendo fanfic/insira a sua atividade aqui não é perdido, mas bem utilizado pra (de forma meio torta) dar ao corpo o que ele precisa.
precisamos ser mais gentis
pensei nisso essa semana, quando percebi que, ao invés de cumprir com as tarefas do dia, eu passei mais de 3 horas lendo no meio da tarde. era fácil eu me afundar na culpa de ter passado tanto tempo, em plena terça-feira, fazendo absolutamente nada de útil pro(s) meu(s) país(es), mas, no fim do dia, percebi que eu fiz o máximo que eu conseguia lidar e tudo bem. não foi um dia incrível, mas ainda tava cheio de pequenas vitórias e alegrias que valeram a pena.
inação gera mais inação que gera mais…
quando a gente tá largada no sofá maratonando aquela série ou devorando aquele livro, é fácil ficar com preguiça de fazer qualquer outra coisa ou entrar naquela história de “depois eu faço” (e não fazer nunca). em algum momento, a gente precisa reconhecer que por mais que horas deitada seja, de fato, o que você precisa e quer realmente fazer, em outros a gente tem que ser a própria animadora de torcida e encontrar forças pra sair da estagnação e fazer alguma coisa – qualquer coisa – pra colocar a gente mais próxima do objetivo final.
vou dar um exemplo: domingo passado eu tava com um total de zero vontade de arrumar e limpar o meu apartamento, mas me propus a fazer o mínimo do mínimo do mínimo pra, pelo menos, começar a semana mais ou menos organizada e me dar o resto do dia pra ler. o simples ato de colocar a roupa de cama na máquina de lavar meio que me colocou em movimento pra organizar a pia do banheiro, lavar a louça acumulada na pia da cozinha, tirar todo o lixo, colocar um lençol limpo na cama e assim vai.
foi a faxina ideal? não. foi o suficiente praquele momento? sim.
e. tudo. bem.
baixar (bastante) o nosso sarrafo mental não é simples, mas entender que o meu momento de vida atual pede altas doses de fanfics + sofá + abraços no meu cachorro conta que eu preciso pensar em maneiras de evitar o fracasso total. e ajuda lembrar como eu me sinto dormindo num lençol limpinho, tomando café com as minhas amigas ou ao terminar o treino da academia.
vamos entender, então, esse texto como uma grande ode ao “buscar entender primeiro, e evitar julgar depois". a sua procrastinação não é um problema, mas um sinal de alguma coisa não vai bem.
e quando alguma coisa não vai bem a gente questiona, observa, cuida.
somos seres humanos, afinal.
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a mão chega a coçar pra buscar o Kindle e me enroscar no sofá de sono, mas, ei!, eu consegui escrever uma newsletter inteira hoje e riscar mais quatro tarefas da minha lista.
um brinde às pequenas vitórias.
por hoje é isso.
se cuida e fica bem,