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bom, aconteceu. eu chorei – ou melhor, me debulhei em lágrimas – por causa de um k-drama. em minha defesa, é um k-drama muito bom. daqueles que eu queria poder esquecer pra assistir pela primeira vez de novo.
o drama em questão é Itaewon Class (Netflix), e conta a história de um homem com uma meta: criar a maior empresa do ramo alimentício da Coreia do Sul. acontece que o protagonista, Park Seoroyi, não é um cara comum. ele foi preso depois de tentar vingar o assassinato do pai, quando era adolescente. tem mais. o assassino, no caso, também era um adolescente que atropelou o pai do Seoroyi e não chamou socorro. e tem mais. o pai do Seoroyi trabalhava na empresa do pai do garoto que o atropelou, que até então era a maior empresa do ramo alimentício da Coreia do Sul.
Drama. com “D” maiúsculo.
se você precisa de mais motivos pra assistir, coloco os principais aqui:
é uma série muito diversa em personagens, com uma pessoa trans (quem conhece um pouco da Coreia do Sul sabe o quanto isso é uma quebra de tabu ENORME), um personagem negro (mesma coisa do ponto anterior) e outra que claramente lida com questões de saúde mental.
tem muito quebra pau, e se você é do time que gosta de ver rico se ferrando (eu mesma), tem um prato cheio.
o Seoroyi é aquele personagem que faz você pensar “odeio esse cara” nos primeiros dois minutos, mas logo em seguida vira a pessoa mais legal do planeta.
a trilha sonora é 10/10 e tem até música do V do BTS (por MESES a música ‘Sweet Night’ foi a minha favorita, e eu nem tinha assistido Itaewon Class ainda).
mas não estamos aqui pra recomendar k-drama
quer dizer, até estamos um pouco, mas o foco é mesmo outro. o que me pegou nesse drama é que eu tava chorando já no primeiro episódio e não porque o romance é incrível (é bem coadjuvante, na verdade) ou porque a história é super tocante, mas porque os personagens são f*das e soltaram umas verdades que me deixaram, literalmente, em lágrimas.
(em tempo, suspeito que meus vizinhos de porta me acham meio louca, ou sentem uma pena danada de mim – eu vivo recebendo olhares estranhos quando a gente se encontra no corredor.)
o mais incrível é que essas partes tocantes (mais sobre isso em um segundo), por mais que sejam reflexões f*didas sobre a vida, se encaixam perfeitamente no nosso processo criativo. vamos lá:
1. viver segundo os seus princípios vale a pena
a maior parte da história mostra a determinação do Park Seoroyi em não abrir mão dos princípios dele por nada. ele é tentado de novo e de novo e se mantém firme e forte no que acredita. e você meio que fica pensando “não, AGORA ele vai ceder". e não acontece.
por mais que seja uma ficção (das bem boas), isso me fez pensar que, sim, viver segundo os nossos valores (e APENAS segundo os nossos valores) vale a pena, mas a gente se vende por muito pouco – e principalmente quando o assunto é a nossa criatividade. (pensei, de prima, na questão dos algorítimos e como eles ditam a maneira como a gente cria pra internet.)
eu resumiria isso em: conexão consigo.
2. as relações devem ser o centro das atenções
outra coisa que faz o Seoroyi tão incrível é que ele passa a história inteira falando o quanto as pessoas precisam estar sempre em primeiro lugar. ele coloca a equipe dele em primeiro lugar, as pessoas do bairro, os amigos… é tudo sobre as pessoas e em como servir a essas conexões vai trazer o resultado que ele busca a longo prazo.
não é fazer as coisas esperando em algo troca, hein. é se preocupar primeiro com as pessoas ao seu redor, em entender e atender as suas demandas. e ponto final. o que vai volta e tudo mais.
dá pra traduzir isso em: conexão com os outros.
3. atenção à qualidade do seu tempo
pra mim, uma das cenas mais marcantes da série acontece na prisão. o Seoroyi tá conversando com um novo detento que tá fazendo de tudo pra provar que ele agora tem o título de “ex-presidiário” nas costas, e isso é o suficiente pra ele ter uma vida miserável – o que ele considera um fato e não uma suposição.
porém, o Seoroyi se recusa a aceitar viver desse jeito e, mais na frente, quando os dois se reencontram, esse cara percebe que a qualidade do tempo que ele e o Seoroyi tiveram desde que se conheceram foi completamente diferente – e isso gerou resultados diferentes. enquanto um usou o tempo na prisão pra se concentrar no que ele queria conquistar quando fosse liberado, o outro se manteve com a cabeça no crime e, claro, continuou envolvido nisso.
Seoyori usou esse tempo pra colocar a cabeça no lugar e encontrar formas de realizar o seu sonho depois de sair da prisão, mesmo que isso significasse muito tempo fazendo algo que ele não queria. mas ele manteve os princípios, se concentrou nas relações que tinha e foi fazer o que tinha que ser feito pra alcançar a sua meta.
eu chamaria isso de: conexão com o mundo.
4.não deixe os outros definirem o seu valor
nessa mesma cena, o Seoroyi tem uma fala que foi tipo um hadouken existencial na minha cara. ele, literalmente, diz que o outro “não tem direito de definir o seu valor".
pausa dramática pra deixar a ficha cair por aí.
o quanto a gente permite que os outros ditem o valor do nosso trabalho? da nossa arte? o quanto somos criativos ou não? a gente dá o poder de decidir sobre o nosso valor na mão de pessoas que, honestamente, a gente nem conhece direito. e toma aquela definição como verdade.
a gente acha que a nossa escrita não vale a pena, que não é boa o suficiente. que a nossa arte não tem público. que não é criativo porque alguém, em algum momento, fez um comentário aleatório sobre isso.
acho que dá pra resumir essa ideia numa frase que o ator Tom Holland citou uma vez e que, vira e mexe, me vem na cabeça:
“se você tem um problema comigo, me mande uma mensagem. se você não tem o meu número de telefone, você não me conhece bem o suficiente para ter um problema comigo.”
é o mesmo princípio: por que a gente deixa os outros (família, amigos, chefes, colegas de trabalho, estranhos na internet) decidirem o valor de quem a gente é do que a gente faz?
vamos com calma, hein
basicamente, essa última ideia é a cola final do meu conceito sobre criatividade: a conexão consigo, com os outros e com o entorno, de forma que, alinhado com os seus princípios, nutrindo as suas relações e cuidado da qualidade do seu tempo, você consegue definir o seu próprio valor e usar a sua criatividade pra solucionar os problemas do mundo.
e por “problemas do mundo” entenda qualquer desconforto que a gente possa ter no nosso dia a dia, seja no micro (”acordei desanimada"), seja no macro (”o impacto das minhas ações individuais no aquecimento global").
a cada dia, eu tenho percebido uma urgência em praticar tudo isso que falo que tá me deixando louca. eu ando brigando com demônios mentais todos os dias em busca de colocar esse conceito na minha vida, porque eu mesma permiti que outros definissem o meu valor. eu me mantive longe das pessoas, desconectada de mim e do meu entorno. e isso machuca muito, sabe?
talvez (ou “pra variar"), eu esteja analisando demais algo que foi feito pura e simplesmente pra entorpecer e dar aquele boost de dopamina que a gente tanto busca. mas algo me diz que, se eu não usar estímulos como esse pra refletir e aprender sobre mim e o mundo…
… qual o objetivo da vida?
a nossa dose de inspiração do dia:
livro: Amanhã, Amanhã e Ainda Outro Amanhã, Gabrielle Zevin. eu comentei na última newsletter que tava lendo esse livro e, olha, se você quer alguma coisa pra te desgraçar a cabeça tanto quanto Itaewon Class, esse livro vai fazer exatamente isso de um jeito lindo e poético e doído e verdadeiro. insanamente relacionado com tudo o que eu comentei aqui, mas com uma narrativa BIZARRA de incrível.
álbum: 1989 (Taylor's Version), Taylor Swift. eu sei que tenho falado incansavelmente sobre a Taylor nas últimas newsletters, mas ainda sobre o tema conexão com os outros e consigo, me chamaram a atenção, bem recentemente, pro fato de que esse álbum é uma história do começo ao fim que fala sobre todos os estágios de um relacionamento. um exemplo perfeito de como explorar as diferences nuances de conexão na forma de música.
k-drama: Amanhã, Netflix. se você quer entrar no mundo dos k-dramas que vão te deixar pensando sobre a vida por DIAS, Amanhã é um que eu recomendo muito. o elenco é 10/10, o conceito da história é incrível e eu chorei muito, do começo ao fim. mas fica o aviso: é um drama que trata de suicídio, consumo de drogas e abuso. a temática é pesada, mas é um drama lindo, e tem o Rowoon no papel principal, um dos meus atores favoritos da atualidade.
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ei, me ajuda aqui rapidinho?
eu tenho pensado nisso há algumas semanas, mas queria a sua opinião. o que você acha de transformar a sessão “a nossa dose de inspiração do dia” em um email separado, que você recebe todo domingo, a cada 15 dias?
seria assim: na quinta eu libero a newsletter da quinzena e no domingo, a dose de inspiração relacionada, pra você ler e curtir tranquila. o que você acha?
ufa, agora acabou. vou ali secar as lágrimas porque num paro de chorar desde que finalizei esse drama e agora tô órfã de drama bom de ovo. tem alguma recomendação? me responde esse e-mail! vou adorar saber o que você tá assistindo.
se cuida e fica bem,