você está recebendo esse post porque as navegantes ⚓ votaram e toparam liberar pra todo mundo um conteúdo exclusivo. se você quiser ser uma navegante também, é só clicar aqui.
acompanho o nascer do sol pelo reflexo nas janelas do prédio em frente ao meu. é segunda-feira e, apesar da previsão do tempo ser pavorosa, as luzes alaranjadas que colorem a fachada cinza e espelhada me conta que, pelo menos por alguns minutos, o sol vai aparecer hoje.
o relógio marca 5h50. com o café da manhã pronto e na mesa, me sento pra comer antes de descer pra academia. já passeei com o meu cachorro a essa altura da manhã (madrugada?), e lembro que minha parte preferida do dia é o silêncio que experiencio a cada passada ao redor do quarteirão.
são paulo era quieta logo cedo também, mas não é nada como aqui.
sou a única na rua. às vezes encontro um corredor empolgado, alguém voltando pra casa de uma noitada, trabalhadores que começam o dia como eu. o cheiro de pão fresco, recém-assado, só é possível de ser sentido a essa hora, quando a padaria ainda não abriu, mas os fornos estão a todo vapor.
olho pro meu café da manhã de sempre e me diverto com o maiquinho comendo o dele. dei um nó forte demais na toalha que uso como enriquecimento ambiental e ele tá correndo a sala inteira tentando tirar a ração dali de dentro. acontece.
termino o meu amado pão com ovo e guacamole e ‘guardo’ a vitamina de couve e proteína vegetal pra tomar enquanto escrevo no diário.
de novo, é o silêncio que me faz companhia. ele é como um cobertor quentinho que me alivia os sentidos e monta o palco perfeito pra eu me preparar, no meu ritmo, pro dia que ainda tá só começando.
meu celular segue no modo noturno, ainda no seu posto de todas as noites, sobre a mesa de trabalho. só pego o bichinho na mão quando desço pra me exercitar. ainda não me acostumei a treinar sem música, sabe? me ajuda a abafar um pouco mais o zumzum da academia.
quem teve a brilhante ideia de botar rap pesado pra tocar às 6h30 da manhã nesse lugar?
provavelmente a recepcionista, que parece nem ter acordado direito. entendo.
ainda tá tudo escuro quando volto pra casa depois do treino, e o michael tá roncado na casinha. pego minha roupa, tomo banho e me preparo pro trabalho. hoje deu preguiça de secar o cabelo, então vai natural mesmo. mas fiz a minha maquiagem, botei brincos, meus anéis, até passei um perfuminho.
trabalho de casa, mas o esforço extra vale a pena.
acordo o michael pro nosso segundo passeio, abro as cortinas e, agora, com o sol já nascido, observo os raios dando 110% de si na tentativa de esquentar a manhã ainda gelada de abril. pelo menos, a temperatura tá positiva.
já de volta, faço meu café e meu iogurte com granola. não tenho nada pra colocar no meu commonplace book hoje, então pego meu livro e sento no sofá. tenho meia hora pra ler antes do trabalho começar.
o celular segue dormindo. de volta pro seu lugar até a hora que me sinto pronta pra olhar o que tem de novo ali.
rotina de despejo, um update
comentei por aqui sobre a rotina da manhã que criei. e sem querer ser extremista ou viver de absolutos, mas foi a melhor coisa que fiz por mim mesma recentemente. subestimei (e muito) o quanto começar o dia já envolvida com notificações, vídeos curtos e internet tava interferindo na minha saúde mental.
esse post ganhou um fôlego novo esses dias, e fiquei pensando como a solução talvez resida, de fato, em criar uma relação mais saudável com o celular - e não o jogar no oceano, infelizmente. digo isso porque sinto que passei pelo que eu mais temia: o efeito sanfona tecnológico.
explico. sabe quando a gente insiste que tirar um alimento da dieta é a solução pra emagrecer? e aí quando volta a comer aquele alimento, perde a mão e come mais do que você comia antes?
então, eu passei por isso com o celular. já comentei inúmeras vezes que o inverno foi puxado e talvez eu não devesse ter feito um detox tão extremo durante as minhas férias, na virada do ano. porque o resultado foi exatamente esse: senti que a somatória do frio extremo + o retorno das redes no meu cotidiano tiveram um resultado catastrófico.
então, pensar uma nova rotina da manhã foi uma forma de amenizar esses efeitos, sem tirar as redes e a internet totalmente da jogada (trabalho com isso, afinal), mas tentando criar uma maneira mais amigável de lidar com elas.
tal qual a rotina de uma criança, que tem delimitações e horário pra tudo, montei uma rotina com limites. e as minhas manhãs, agora, são sagradas. já comentei também que costumo ser bastante disciplinada, e que criar e seguir regras é a minha versão nada sexy das preliminares. me diga o que fazer e me veja fazê-lo com a maior alegria do mundo.
minha psicóloga vai ter trabalho essa semana.
então, sim, criei uma regra: nada de celular até às nove da manhã. e por ‘nada de celular’ entenda: nada de acessar aplicativos que não sejam o app do tempo e o spotify. qualquer outra coisa está fora dos limites, pra ser visto só quando eu sentar pra trabalhar.
agora, vamos lá, eu tenho seguido a rotina que coloquei aqui à risca? claro que não. apesar de amar estrutura e regras, eu tenho aprendido muito sobre ouvir o meu próprio corpo e flexibilizar quando a flexibilização é necessária. no dia em que escrevo esse texto, não fui pra academia porque acordei com enxaqueca.
semana passada, troquei o diário por uma leitura que tava muito boa. deixei pra escrever só bem depois das 5 da tarde. de fim de semana, eu dificilmente saio duas vezes com o michael de manhã — isso é importante durante a semana porque ele fica muito tempo dentro de casa entre o começo do horário de trabalho e a hora do almoço.
há muito tempo, esses ajustes, pra mim, seriam impensáveis.
hoje são normais, parte do processo, porque a minha vida não é uma foto perfeita de instagram. tem dias que acordo mal-humorada, com dor de cabeça, inchada porque tô pra menstruar… outros levanto super empolgada e romantizando a vida, com vontade de fazer tudo bem bonitinho, de botar uma playlist lo-fi pra tocar enquanto tomo café só porque deu vontade.
tem uma história que não me sai da cabeça e que vem a calhar agora: vi o trecho de um podcast, há muito tempo, em que o convidado falava que uma linha reta no seu monitor de batimentos cardíacos significa que você morreu. a vida, tal qual o seu coração, funciona com altos e baixos, em curvas que seguem em frente, mas jamais se cruzam ou achatam.
e, ultimamente, é nisso que penso quando acordo e digo pra mim mesma ‘hoje quero fazer isso e não aquilo’. a rotina que eu montei é um suporte, não uma amarra.
o que aprendi vivendo manhãs totalmente offline
é difícil não se sentir uma versão faria-limer, linkediner, que acha que sabe demais e tenta encontrar aprendizado em absolutamente tudo. mas tive algumas ideias nesse período que queria muito dividir com você. e gosto da ideia de registrar e passar pra frente as lições que a vida me oferece.
vamos lá.
1.infelizmente, a manhã dita o resto do seu dia
digo ‘infelizmente’ porque eu queria não ser a pessoa do ‘eu avisei’ tanto não queria ser a pessoa do ‘tudo é uma lição’, mas cá estamos. a maneira como você começa o seu dia vai ditar o ritmo, o humor, a vibe (se você é das vibes) do seu dia inteirinho. a partir do momento que mudei a maneira como começo os meus, senti que eles mudaram também.
pra começo de conversa, meus níveis de ansiedade caíram drasticamente.
2.o offline me fez menos cansada e mais criativa
uma coisa que percebi logo de cara é como passar menos tempo online me deixou menos cansada. porque o cansaço não é só físico, entende? a nossa cabeça também cansa. e a quantidade absurda de informação tava me deixando exausta. eu já acordava com a mente hiperestimulada e sobrecarregada. não era à toa que eu chegava às 3 da tarde pedindo arrego de tudo. fora isso, tava vivendo na pele aquela máxima do ‘consumir demais e criar de menos’. e percebi a balança começando a virar quando passei a consumir menos. me vi tendo mais ideias e empolgada de novo com a escrita.
3.o estresse ficou mais agudo
veja, acho que isso aqui é um reflexo da auto-percepção. percebi que, antes, eu vivia num estado constante de estresse, com a mente super agitada e inquieta. quando tomei decisões que permitiram que a minha mente sossegasse mais, parece que os momentos de estresse reais ganharam uma proporção infinitamente maior do que tinham antes. aconteceu mais de uma vez de eu ter um pico de estresse no trabalho, por exemplo, e ficar o resto do dia imprestável - o que não acontecia antes. e acho que tem tudo a ver com esse exercício de auto-observação.
4.ter limites é tudo nessa vida
eu entendo as pessoas que decidem, de fato, sumirem das redes sociais. faz sentido. porém, eu entendi que, pra mim, ter limites é muito melhor. porque criar uma relação saudável com essas ferramentas significa que eu não me isolo totalmente, mas também sei a hora de parar. e eu sinto que isso é muito mais realista do que qualquer um dos extremos (não usar nada ou usar tudo o tempo inteiro). fora que é (mais) um exercício e tanto, afinal ninguém vai criar limites pra você. você tem que fazer isso por si mesma.
5.notícia ruim chega rápido (e raramente por rede social)
essa máxima é uma daquelas bem antigas, mas que sinto que a gente esquece com uma facilidade absurda. a verdade é que nada do que acontece numa rede social é, de fato, tão importante assim. é claro que muita gente depende dessas ferramentas por conta do seu trabalho (principalmente os pequenos negócios!), mas em termos bem genéricos, nada do que rola ali é essencial pra nossa existência. a verdade é que se acontecer alguma coisa realmente séria ou se alguém precisar mesmo de você, essa pessoa vai saber te encontrar. notícia ruim não só chega rápido como sempre dá um jeito de te achar. falando nisso…
6.se você tem meu número de celular…
… então somos próximas o suficiente pra você ter um problema comigo. caso contrário, a opinião destilada na internet não tem nenhuma consequência sobre quem eu sou. eu tava numa de comparação bem forte, sabe? e passar mais tempo longe das redes, além de escrever mais no diário, me ajudou com uma coisa que brené brown já fala há tempos: são pouquíssimas as pessoas cuja opinião realmente importa pra gente. ninguém tem que se justificar pra estranho na internet não, viu? e se alguém tem um problema aleatório com você online, saiba que a probabilidade de você ser, de fato, o problema, é bem pequena.
nada é escrito em pedra, então, tenho certeza que essa rotina ainda vai mudar muito com o tempo, um sinal de que eu também mudei. o que, se a gente parar pra pensar, é bem bonito.
me conta uma coisa: você já pensou em passar as manhãs offline? vamos conversar nos comentários!
é isso por hoje.
se cuida e fica bem,
Olá! Eu já fiz, mas durou bem pouco. E esse post me trouxe essa reflexão novamente pra minha pauta de vida, que tem dias que acordo e tomo meu café no silêncio, deixando as luzes naturais entrarem em casa e me sinto em paz. A mente fica mais limpa. Como moro sozinha, as vezes sinto que esse falatório é também uma forma de não me sentir tão só...
Eu venho buscando esse equilibrio e gostei de saber dessa sua rotina. Vou testar. 💐