SOS RIO GRANDE DO SUL:
por conta das enchentes e fortes chuvas que rolaram lá no Rio Grande do Sul, eu e uma amiga, a Mari, nos juntamos pra rifar um Kindle Paperwhite 16G e doar o valor para a compra de água e auxílio a comunidades indígenas no estado. cada número custa R$ 10, e se você puder ajudar colaborando com a rifa ou compartilhando a notícia, a gente agradece demais! pra participar é só clicar aqui, e pra compartilhar o post do Instagram, clica aqui.
e, agora, vamos à newsletter de hoje ❤️
outro dia, me vi pesquisando no TikTok: como eu faço pra reencontrar a minha alegria de viver?
minha terapeuta deu risada quando falei sobre isso na nossa última sessão.
mas sabe quando você começa a se perceber numa neutralidade incômoda, em que parece que nada te alegra? Marie Kondo já dizia pra gente se livrar de tudo que não traz alegria e, bem, no meu olhar enviesado, eu não saberia dizer o que me deixa feliz há um bom tempo.
imigrar é, realmente, desafiador.
imigrar sozinha, então… é desafio em dobro, eu diria.
imigrar sozinha com um cachorro… bom, você já entendeu.
mas eu não quero usar esse espaço pra me colocar numa posição de coitada (ou ‘classe média sofre’, como diriam os meus conterrâneos do - pra mim, agora, falecido - Twitter), mas uma reflexão sobre como é fácil a gente cair num automatismo que nos tira o brilho dos olhos.
veja, eu sinto que é preciso reforçar aqui que a minha intenção também não é romantizar (ou ignorar) o sofrimento. mas assim como sentir alegria por tudo o tempo inteiro pode ser um problema, não ver alegria alguma em absolutamente nada também.
me encaixava na última categoria, nesse começo de ano.
a gente precisa, claro, observar o contexto. os últimos dois anos foram bastante puxados pra mim, física e emocionalmente, e perder o emprego no final de 2023 foi o baque final pro cansaço bater de vez e eu virar a própria Bella Swan na cadeira giratória.
cinco meses depois, já empregada e restabelecendo a minha rotina, comecei a observar como a apatia tava meio presente independente do que acontecia na minha vida. a terapia, aqui, tem sido essencial pra navegar esse novo momento, mas eu sei que, mesmo assim, tem passos que eu preciso dar com as minhas próprias pernas e que ninguém consegue dar por mim.
mudar a minha percepção, por exemplo.
confesso que a situação do RS não ajudou nem um pouco (e como poderia????) e o desânimo que eu sentia foi a níveis nunca antes vistos porque eu só conseguia pensar em como ajudar um estado inteiro em sofrimento e ainda continuar vivendo a minha vidinha cinza.
ser humano é, de fato, bastante complexo.
e por mais que eu acredite 100% que a empatia não só é necessária, mas essencial pro futuro da humanidade, eu ainda via martelando na minha mente essa ideia de que eu tava me afogando no desespero alheio e precisava, de alguma forma, encontrar um pouco de luz no fim do túnel.
ou, no mínimo, acender uma vela.
sei lá.
desde então, a única coisa que me anima, de alguma forma, é essa noção de que o mundo pode estar mais caótico do que nunca e o colapso ambiental deixou de ser um conceito abstrato pra virar uma realidade cotidiana, mas se eu conseguir fazer o dia de alguém, nem que por um minuto, melhor, então essa loucura vale a pena.
mas, de novo, não dá pra terceirizar a alegria que eu sinto.
e eu entendi que, pra reencontrar o que me faz alegre, talvez eu precisasse, primeiro, parar de fugir.
mecanismos de esquiva? temos
eu aprendi, recentemente, que sei bem como me esquivar dos meus sentimentos. primeiro, ler todos os livros que consigo encontrar. depois, me manter obcecada por filmes, histórias, animes… a escrita, às vezes, também pode funcionar como um elemento mascarador.
“eu olho diretamente para o sol, mas nunca no espelho”, já dizia Taylor Swift, e percebi que era exatamente o que eu tava fazendo. passada a infância e pré-adolescência, substituí os meus mecanismos infantis pelo trabalho. e foram anos, muitos anos, uma década, trabalhando tanto quanto meu corpo e mente aguentavam.
como descobri, eu aguentei muito até não aguentar mais nada.
recentemente, com uma relação bem mais saudável com o trabalho em vigência, percebi que foi hora de voltar pros livros pra não lidar com as dores da solidão da mulher imigrante ou o luto por perder um trabalho.
me afoguei na leitura de novo.
passei a scrollar as redes sociais em todo e qualquer momento de pausa.
o silêncio virou meu inimigo, e a música voltou a ocupar cada segundo do meu tempo fora de casa.
eu acordava e ia dormir estimulada, garantindo que a dor que eu tava sentindo continuasse embaixo do tapete.
eu era Kimmy Schmidt pulando na sala de casa e gritando “I’m not really here!” na esperança de, verdadeiramente, não estar ali sentindo aqueles sentimentos.
até que não deu mais. e eu comecei a perceber que os meus comportamentos de fuga tavam saindo do controle de novo e se eu não lidasse com isso em algum momento, a coisa toda ia explodir na minha cara da pior maneira possível.
então, cheguei na terapia com a pergunta, “o que eu faço com isso que eu tô sentindo?”
e ela disse, “você sente”.
permitir-se sentir o ruim não significa que ele vai durar pra sempre, mas oferece elementos pra gente decidir que não quer mais viver aquilo. é, literalmente, o oposto da negação. é aceitar, acolher, e parar de brigar consigo pra sentir outra coisa.
me permiti chorar. e ficar triste. escondi meu Kindle de mim de novo. coloquei o celular num armário da cozinha pra evitar a tentação. aceitei que mesmo estando tudo bem eu não tava bem. e que não tinha nada errado com isso.
a culpa gerada pela ingratidão veio chutando a porta da frente. como pode eu ter comida na mesa, água pra beber, banho quente, uma cama quentinha, um trabalho e estar triste? deixei que ela fizesse o seu escândalo. que quebrasse os móveis e os copos, que chutasse a parede e gritasse o quanto quisesse. a dor do outro não anula a minha, independente das circunstâncias. a vida não é uma competição de quem sofre mais e não existe linha de chegada.
no outro dia, acordei melhor. ainda com o coração dolorido de tanto sentir e a cabeça cansada. lidar com o desconforto é mesmo horrível. mas também é bom. minha terapeuta reforçou que a minha versão do futuro ia me agradecer por isso. deu vontade de chorar de novo. chorei. saí com uma amiga e foi bom conversar. meu cachorro pediu carinho e eu dei. ele deitou a cabeça no meu colo e ficou ali um tempo, como se soubesse do que eu precisava. melhorei de novo.
e assim segui pelas últimas semanas. questionando como reencontrar a minha alegria e aprendendo que, pra senti-la eu precisava tirar a dor da frente. buscando mudar a forma como eu encaro cada momento do meu dia e substituindo o “não vejo alegria em nada” por “talvez isso seja super legal e eu ainda não percebi”.
sempre fui de buscar motivos e propósitos pra minha estada na Terra. e apesar de saber que talvez essa história do “tem que ter uma razão pra gente estar aqui” seja só um surto millennial eu ainda sinto que tem que ter uma razão pra gente estar aqui. nem seja mudar a forma como a gente vê a vida. nem que seja encontrar alegria na rotina de toda semana. nem que seja aprendendo a sentir sentimentos e abraçando a dor pra depois deixá-la ir, sem qualquer apego.
nem que seja.
independente do que você estiver vivendo hoje ou de onde estiver, eu espero que esse email seja a vela acesa que você precisa pra se sentir um pouco melhor e menos sozinha.
essa newsletter depende de você pra alcançar novas pessoas e continuar ativa. gostou do que você leu aqui? clica no botão abaixo e encaminha esse texto pra um amigo ❤️
é isso por hoje.
se cuida e fica bem,
Nessas horas eu sou fã da "Casual Magic" da Unjaded Jade, tentar buscar nas pequenas coisas do dia a dia essa mágica que faça o dia valer a pena e pouco a pouco nos faça recuperar a alegria, sabe? Não vou dizer que tenha funcionado, mas eu continuo tentando e pode ter certeza que as suas newsletters são parte dessa mágica, elas sempre melhoram o meu dia.