soterrada por informações, busco um lugar tranquilo pra respirar
a infoxicação devorou a minha mente
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o relógio bateu sete horas da manhã no domingo e eu já tava de pé. percebi, com um pouco de atraso, que tava na mesma posição há um tempo: apoiada na bancada da cozinha, esperando a torradeira indicar que o meu pão tava pronto pro café da manhã.
ele tava. e já tinha esfriado.
o motivo não poderia ser outro. lá estava eu, às sete da manhã de um domingo, scrollando pelo feed to TikTok de novo e de novo e de novo, até cansar e pular pro Instagram. nesse meio tempo, a enxurrada de informações já ocupava a minha mente como um enxame, um barulho ensurdecedor que alegremente alimentava a minha ansiedade.
uma receita de muffim saudável. um vídeo sobre ser solteira depois dos 30. um carrossel sobre aquecimento global. um stories sobre a vida no Canadá. um reels engraçadinho sobre os trejeitos da cultura brasileira. um vídeo de gatinho ali, um de cachorrinho acolá.
eu tava exausta e o dia nem tinha começado direito.
tudo isso porque eu peguei o meu celular pra olhar a temperatura e confirmar que seria seguro sair com o meu cachorro naquele horário. o calor chegou de vez por aqui e o sol aquece demais o asfalto - o que pode queimar as patinhas.
me perdi no meio do caminho e, no fim das contas, já nem lembrava qual era a temperatura.
muitas horas depois também já não lembrava de um terço de todos os vídeos e carrosséis que tinha visto aquele dia nas redes sociais. ou das newsletter que li pelo app do Substack. ou o que eu queria fazer pro almoço. o importante era que a playlist tava em dia e as músicas tocavam na sequência perfeita uma depois da outra.
na pausa, ouvi alguns áudios de uma amiga que mora longe. retomei a música. parei um segundinho pra confirmar o que as pessoas tavam falando sobre nos stories do Instagram enquanto comprava uma calça. terminei o dia divida entre o livro que tava lendo e o TikTok.
mal lembrava do que eu tinha visto, ouvido e lido aquele dia.
seria cômico se não fosse…
na verdade, eu acho que não é nem um pouco cômico. tenho me sentido absolutamente sobrecarregada pelo bombardeio de informações que a gente recebe todo santo dia de todos os lados. verdade, trabalhar com conteúdo, com escrita e com a internet não ajuda muito nesse cenário, mas nas últimas semanas eu tenho pensado que todo mundo ‘podia parar uns dez minutos pra gente ficar um tempo em silêncio’.
foi pela newsletter New Plan Journal que eu redescobri, por meio desse link, um termo que já tinha visto antes, mas dado pouca atenção: infoxicação. ou seja, o excesso de informação. tal qual absolutamente tudo na vida, informação de mais faz tão mal quanto informação de menos. e pra mentes ansiosas como a minha, é um veneno.
talvez também seja assim pra você. o zumzumzum do que a gente vê online passa pra sua mente que sim-ples-men-te-não-pa-ra-qui-e-ta. as ideias se misturam com listas de mercado que se embolam com vídeos sobre bem-estar que se entrelaçam com podcasts sobre a política do país.
sabe aquela vontade doida de deletar tudo, puxar o computador da tomada (ou deixar descarregado, numa analogia menos anciã) e só existir?
eu senti vontade de só existir.
e, veja, como jornalista eu talvez devesse saber melhor monitorar e filtrar as minhas próprias fontes de informação, mas como Ansiosa em Recuperação os meios de procrastinar altamente viciantes têm um quê de atrativo e são a desculpa perfeita pra eu não fazer tarefas que tenho medo de concluir.
ainda assim, o desejo do silêncio permanece.
talvez você tenha percebido também que, mais do que a necessidade do silêncio, tá difícil encontrar pessoas com quem conversar nesse mundão online. tudo é empresa, tudo é curso, tudo é venda. tudo é conteúdo hiper profundo. talvez seja a Vovó da Nostalgia falando na minha mente, mas eu anseio por conversas despretensiosas com pessoas just because. sem motivo algum, só porque ela postou uma foto de um lugar que eu conheço e isso rendeu uma conversa.
ponto pra intencionalidade
mais do que refletir exaustivamente sobre o assunto, é importante entendermos rápido que o mundo não vai mudar pra atender às nossas necessidades pessoais. isso é uma resposta direta do sistema capitalista que vivemos e a informação e o conteúdo vão, cada vez mais, se tornarem meios importantes de fazer a roda da economia continuar girando.
a questão não é voltar no tempo e viver como se fazia nos anos 1820. mas estabelecer limites e acionar o botão da intencionalidade antes de acessar aplicativos como o Instagram.
e eu sei o que você deve estar pensando: é bem fácil falar.
na verdade, não é. porque passei a última semana e meia escondendo o meu celular e kindle na prateleira mais alta do closet pra fugir da tentação. pra mim, acessar redes sociais sempre foi mais atrativo pelo celular do que pelo desktop. fora que no computador eu tenho as notificações do slack, reuniões e prazos de trabalho que fazem o macaco da urgência gritar desesperado pras demandas serem atendidas.
além disso, numa tentativa alucinada de silenciar a minha mente um pouco mais, cortei o meu uso de fones de ouvido o máximo possível. não uso mais pros passeios do Michael ou pra percorrer pequenas distâncias, tipo ir na farmácia ou no mercado.
(vocês que me perdoem, mas é chato demais ficar sem música na esteira.)
também criei uma lista com as fontes de informação e conteúdo que vou consumir pelos próximos três meses. newsletters, posts e vídeos que não forem daqueles criadores e/ou fontes serão automaticamente deletados ou pulados.
poderia dizer que tô numa dieta de informação.
e queria dizer também que não vi diferença nenhuma, mas os meus registros de trabalho no Toggl não me deixam mentir: em uma semana, aumentei de 4 pra 6 horas por dia o meu tempo de foco no trabalho, aquele que a gente faz concentrado mesmo, sem distrações. também entreguei projetos com antecedência e me vi, meio que sem querer, de folga a partir das 13h de sexta passada porque tinha feito absolutamente tudo praquela semana no trabalho.
pequenos milagres.
não é sobre culpa
a intenção é, talvez, tornar mais palpável o quanto estamos absolutamente exaustos e não só pelas rotinas cansativas e, por si só, sobrecarregadas. mas porque a nossa mente não tem tempo pra descansar e processar o tsunami de informações que recebe todos os dias.
a leitura de ‘Minimalismo Digital’, do Cal Newport, me parece, mais uma vez, super relevante aqui: não no sentido de deletar pra sempre a nossa presença digital, mas de criar limites saudáveis pra nossa mente criativa fazer o que faz melhor: criar.
logo, se você também se sente sobrecarregada pela quantidade de informação que recebe todos os dias, aí vão algumas dicas que podem ser úteis. mas fica o aviso: elas não fazem milagre se você não fizer o esforço de limitar e ser mais intencional com a maneira como usa a internet. somos pessoas, afinal, e um dos poucos (e maiores!) poderes que temos enquanto seres humanos é o nosso poder de escolha.
faça uma curadoria de conteúdo: selecione um número aceitável e realista de newsletters, sites e links que você lê por semana. eu me limitei a seis newsletter de temas variados, que cobrem os meus principais interesses. e seja firme! os click-baits tão aí pra chamar a sua atenção e, justamente, te distrair do que você tinha escolhido como fonte de informação.
escolha uma rede social pra ser o seu foco: ama YouTube? maravilha! é fã do TikTok? ótimo! é mais do time Instagram? perfeito! acredite quando eu digo que você não precisa mesmo estar em todos os lugares ao mesmo tempo. por questões profissionais, o Instagram vai ser a minha rede de escolha pelos próximos três meses. as outras, vão ficar de lado por um tempo.
coloque o tempo de scroll na agenda: longe de mim sugerir que você fique 100% longe da internet. isso não funciona. mas se você precisa desse tempo de descompressão, coloca na agenda. eu tenho 15 minutos de manhã e 15 à noite.
seja intencional com as suas pesquisas: respostas rápidas são ótimas, mas um exercício que eu tenho praticado é tentar ir além de uma única fonte pra entender um assunto. se quero saber sobre como cuidar de cabelos finos (um drama real meu) eu assisto um vídeo, leio um artigo na internet e um post no Instagram, por exemplo. a variedade de fontes me ajudar a entender uma dúvida mais profundamente e como saná-la.
o meu próximo passo é tentar tirar um pouco o consumo de informação do online. ao invés de me limitar a sites, newsletters e redes sociais, quero voltar a ler revistas (eu sei, parece contraintuitivo) e livros de temas que interessam. mas é importante ir aos poucos também, afinal, não dá pra liberar espaço mental de um lado pra me sobrecarregar de novo do outro, né?
eu sei, esse texto é, também, uma enxurrada de informação. a contradição não passa despercebida, mas, hey, estamos todos fazendo o melhor que podemos, certo? eu espero que, no mínimo, ele te ajude a criar uma relação mais interessante e saudável com essa era hiper informada em que a gente vive. me conta se deu certo?
é isso por hoje.
se cuida e fica bem,
nossa, sim! me vejo muito nesse dilema. meu maior desafio é não pegar no celular assim que acordo/ficar no celular até antes de dormir. queria ter tipo um "horário comercial" pra usar, sabe? sigo tentando!
Oi Maki, ...aqui lendo seu texto e me vendo nesse caos !
como aquietar a nossa mente ?