se te disseram que tem um jeito certo de escrever… esqueça
a gente precisa entender porque escreve
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os dias têm sido lindos por aqui. muito sol, céu azul e aquela temperatura gostosa entre os 20 e 25 graus que faz tomar uma xícara fumegante de café na beira do canal uma atividade totalmente fazível e suportável.
tem sido o tempo perfeito pra conversas profundas, também.
é, inclusive, sobre isso que eu queria falar hoje. na verdade, sobre o papel da escrita nas nossas conversas profundas, ou só no papel da escrita ponto final. eu tava conversando com uma amiga sobre isso – veja bem, ela me lançou o assunto a dois minutos da porta de casa e a única resposta possível foi “vamos pra algum lugar pra eu poder falar o que penso disso?” – e desde então só consigo olhar pro vazio tentando fazer sentido de tudo.
mas vamos por partes, hein?
quando a gente fala de escrita, eu sinto que a gente ainda vive sob dois estereótipos:
o escritor atormentado, aquele doído, o artista de sentimentos complicados, que fuma milhares de maços de cigarro por dia e usa um chapéu, tal qual os jornalistas da década de 1940.
o escritor místico, aquele meio Chico Xavier que, DO NADA, ouve uma voz com a história perfeita e completa que é escrita à mão numa sentada só e vira um sucesso. “um dia, a inspiração bateu e eu escrevi", diria nele, na sua entrevista coletiva.
e por mais que eu sinta que a gente tenha saído bastante dessas ideias, eu acho que o surgimento da internet inseriu mais uma camada / estereótipo nessa história:
o escritor criador de conteúdo, que compartilha as dores e sabores do seu processo e como é difícil ser escritor em tempos de internet.
e tem toda uma intersecção entre eles: tem o escritor criador de conteúdo e místico, o escritor criador de conteúdo atormentado (risos), o escritor atormentado e místico, e assim por diante. mas o processo e o ato de escrever parece um grande desafio que a gente tem que superar pra quem sabe um dia receber os louros dessa batalha.
(afinal, tem quem não considere escritor um artista e tudo mais.)
as tais regras implícitas
eu acho maluca a capacidade do ser humano se colocar em uma caixinha e acreditar que aquela caixinha possui todas as regras universais que devem ser seguidas por todas as pessoas sem exceção!!!! ser escritor hoje em dia significa criar conteúdo, ser designer também, ilustrador também, fotógrafo também, como se não existisse uma vida fora dessas plataformas que, veja só!, estão cheias de pessoas – um fato curioso que foi deixado de lado.
eu percebi que a nossa mente se fechou em possibilidades tão pequenas e limitadas que parece impossível – ou, pior ainda, errado – explorar outras formas de criar e explorar a nossa escrita.
(e eu tô escrevendo e fazendo uma autoanálise, porque é assim que eu funciono.)
o ser humano é muito bom em tirar conclusões precipitadas das coisas e mal sabe o quanto isso é nocivo pra si mesmo, o quanto isso tolhe a sua criatividade. na tentativa de se encaixar em caixinhas diferentes, perdemos a nossa autenticidade e buscamos entrar no efeito manada esperando um resultado único e especial.
não vai acontecer.
a gente segue regras não faladas e cria fórmulas (argh, eu odeio essa palavraaaaaaaaa) prontas na esperança de ter esses mesmos resultados e buscando números cada vez maiores que satisfaçam o nosso desejo criativo.
bom, nem preciso dizer que a criatividade foi de arrasta pra cima nessa história.
credo, precisa ser tão dura?
peço desculpas de antemão, mas é que se não for assim não tem outro jeito. sinto que a gente tem que parar de achar que a vida são essas regras que a gente acha que são certas. não é simples, viu, mas vale a pena.
falando especificamente da escrita, eu entendi alguns pontos que podem ajudar você também. se você quer escrever, talvez seja importante você entender o seguinte:
qual é o seu objetivo? escrever pelo prazer de escrever é legal, mas mesmo assim ele tem um objetivo (o prazer de escrever). então, qual é o seu? por que você quer tanto escrever? e, se você perceber que não quer, será que você tem a coragem de desistir dessa ideia pra se concentrar em algo que realmente quer fazer? (toma essa, hein!)
qual o benefício que a escrita traz pra você? tipo, tem que ter uma vantagem pra você. no meu caso, escrever é a melhor maneira que eu encontrei de me comunicar com o mundo, então, quanto mais eu desenvolvo a minha escrita, melhor me comunico. tem outras vantagens, claro, mas essa é uma das principais. o que tem na escrita pra você?
qual dança você precisa/quer dançar? repita comigo: ‘eu não preciso estar em toda rede social só porque parece que todo mundo tá em toda rede social’. se escrever é algo que você quer mesmo, você tem um objetivo, um benefício e vai fazer da internet o seu palco (lembrando que sempre dá pra escrever offline, hein), então qual lugar mais se adequa ao seu estilo? veja bem, eu falei qual lugar se adequa ao SEU ESTILO e não o contrário. as plataformas têm que servir pro que você precisa e não o contrário. não seja escrava do algoritmo, criança.
quais regras são importantes pra você? aí vai uma novidade: você pode criar as suas próprias regras. quer ser escritor de legenda de Instagram? você pode. quer escrever roteiros pra vídeos reflexivos no Tiktok? você pode. quer concentrar a sua escrita numa newsletter? você pode. quer escrever um livro pra publicar de forma independente na Amazon? você pode. quer ter um blog com os seus textos? v o c ê p o d e.
definir esses pontos é o que mudou a forma como eu encaro a escrita e a produção de conteúdo, e transformou esses espaços em lugares divertidos pra mim. eu nunca senti tanta alegria escrevendo quanto nessa newsletter e, pela primeira vez desde que eu entrei no Instagram, eu tô apaixonada pelo que eu posto por lá.
tá bom, eu super comprei o estereótipo criadora de conteúdo (uma desconstrução por vez, por favor), mas tá tudo bem eu adaptar e mudar e moldar essa coisa toda até ela ficar do jeito que eu quero.
porque, afinal de contas, eu posso.
nossa dose de inspiração do dia:
uma newsletter: The Hypen, by Emma Ganon. eu acompanho o trabalho da Emma há muitos anos. além de ser uma jornalista f*dida, ela criou um podcast maravilhoso sobre sucesso (que virou livro) e a newsletter dela é uma obra de arte em termos de conteúdo. agora, ela só funciona no sistema pago, mas se você puder, vale a pena assinar e ler o que ela escreve, principalmente os textos sobre o ato de escrever.
um livro: Sobre a Escrita, Stephen King. eu sou cadelinha desse livro, sim, e vou falar dele todas as vezes que me pedirem indicação sobre livros a respeito de escrita. o Stephan fala dessa arte de um jeito que é impossível não se apaixonar (e dar altas gargalhadas, porque ele é muito engraçado). uma palavra pra manter em mente enquanto você lê: contexto.
uma pessoa: Ann Handley. eu sigo a Ann no LinkedIn (juro!), e ela é absolutamente maravilhosa. a Ann é uma das pioneiras do marketing digital, escritora de um livro ótimo sobre o assunto (chama “Everybody Writes", ainda sem tradução em português, infelizmente) e tem explorado muito o papel da inteligência artificial na escrita.
um k-drama: Because This is My First Life (Netflix). um dos meus dramas favoritos, ele conta a história de uma roteirista que passa por uma mudança de vida e um trauma a afasta da escrita. então, ela decide desistir da escrita pra tentar outras coisas e reencontrar o seu caminho. um dos dramas mais maravilhosos que eu já vi. uma das falas nunca me sai da cabeça é uma pergunta simples, mas bem poderosa: “o que aconteceu? escrever deixou de ser divertido pra você?".
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nos vemos na próxima. quem sabe, até lá, você também descobriu porque escreve.
se cuida e fica bem,