foi muito rápido, sabe, e eu nem pensei duas vezes. mergulhei a colher no saco de açúcar e deixei os grãos brilhantes caírem sobre o leite de aveia que já esquentava na panela. também não quis conversar com ninguém sobre o assunto, nem pensar nas consequências que o açúcar têm pra saúde do ser humano (em minha defesa, era o demerara), mas pelo amor de Deus só me deixe colocar açúcar no mingau em paz.
foi estranha a forma como a raiva subiu pela garganta de uma hora pra outra, num pensamento relâmpago de que, talvez, tudo o que eu poderia controlar era a maneira como eu montava o meu lanche da tarde. e, desculpa, mas preciso dizer que completei o pote cheio até as tampas com mel também.
sim. açúcar E mel.
se eu fosse estadunidense e vivesse num filme de Hollywood provavelmente gritaria um "ME PROCESSE" depois dessa última linha escrita, simplesmente porque eu não me importo e vou transgredir as regras da vida adulta, sim.
porque, na minha cabeça, diz o manual de instruções que mulheres adultas que buscam levar uma vida fit, são vegetarianas e fazem crossfit não devem consumir açúcar.
ah, pelo amor de Deus.
e, veja bem, eu estou ciente que a minha exasperação tem pouco a ver com o açúcar e muito mais relação com o cansaço absurdo que eu tenho sentido nas últimas semanas. o mundo pede, pede, pede e não me devolve nada a não ser um corpo exaurido e sedento por carboidratos de consumo rápido porque é isso que eu preciso pra sobreviver, tal qual os homens das cavernas.
mas eu duvido que os homens das cavernas tinham acesso aos carboidratos rápidos.
então, sim, me perdoe se eu apareço de supetão na sua caixa de entrada indignada porque o lado racional do meu consciente está gritando comigo porque eu decidi colocar açúcar no meu mingau.
sinto muito, vozes da minha cabeça, mas isso é o que acontece quando o cansaço atinge níveis absurdos e a gente vê o burnout virando a esquina.
eu queria que isso fosse uma piada.
cansada, me esqueço de mim. do que eu acredito, do que me importa. e desconto nas pequenas coisas que ainda parecem sob o meu controle. exausta, não penso em mais nada a não ser finalizar toda primeira parte da quarta temporada de Stranger Things num único dia, levantando do sofá apenas pra buscar o meu pão de queijo no forno e fazer a merecida pausa pro xixi.
e escrevi aqui tantas palavras incomuns pra mim que me pergunto se essa newsletter não é mais um delírio coletivo do que algo que realmente aconteceu.
então, sim, coloquei açúcar no mingau porque queria algo doce. porque tô trabalhando demais e me embananando em prazos e exausta o suficiente pra marcar um rolê e simplesmente não aparecer porque eu tava cansada demais e colocando açúcar no mingau.
Brené Brown diz que devemos evitar falar sobre vulnerabilidades que ainda são feridas abertas, mas, veja bem, Brené, algumas delas ficam difíceis de esconder quando você só consegue pensar em jogar tudo pro alto e esperar que outro alguém recolha a bagunça.
eu até joguei uns papeis pra cima por aqui, mas ninguém surgiu do nada pra recolher. no fim, fiquei com a sala bagunçada e mais uma tarefa pra escrever no meu lindo bullet journal.
eu coloquei açúcar no mingau. e pretendo continuar colocando porque essa pequena alegria me lembra que ainda posso escolher pelas pequenas coisas, que, com sorte, se tornarão grandes lá pra frente.
dificilmente as demandas vão parar de aparecer. e dificilmente o mundo vai mudar do dia da noite e perceber que tá todo mundo meio doente e que os grandes™ vão ter que escolher não ser mais tão grandes pra que as coisas comecem a equalizar de alguma forma.
eu não vou dormir e acordar no mundo lindo dos meus sonhos. mas eu posso colocar açúcar no meu mingau hoje. e escolher comer alguma coisa diferente no jantar. e talvez optar por ter uma manhã mais tranquila. e depois me sentir corajosa o bastante para dizer alguns “nãos". e, quem sabe, naturalmente perceber que não preciso mais de açúcar no meu mingau.
porque se o mundo não muda, mudo eu.
a nossa dose de inspiração do dia:
tenho buscado escrever mais e voltar para ambientes que me acolhem. hoje, vejo que essa newsletter e o blog são dois desses lugares e, numa tentativa de reacender a criatividade apagada, pretendo aparecer bastante por aqui e por lá. deixo aqui os três últimos posts publicados:
cada escolha, uma renúncia: uma daquelas frases que entrou na minha cabeça de um jeito que é difícil tirar.
escrever não é uma prática solitária: e não é mesmo. um daqueles posts que ficou martelando na minha cabeça e que surgiu de um tuíte.
opto por fazer o mínimo… com amor: um pouco mais do que eu tenho sentido ultimamente e do quanto a minha escolha atual é por fazer o mínimo. e isso basta.
junho chegou e com ele a metade do ano. vivi uma vida completa em maio e não via a hora desse mês ir embora. vai em paz, maio, e não volte mais. foi bom enquanto durou, mas agora é outro momento, com uma nova fase, com novas ideias e novas histórias. um momento de mudanças. ainda bem.
em junho, vamos estudar Henry David Thoreau no clube navegantes. um autor clássico que, com certeza, vai gerar muitos aprendizados importantes quando o assunto é escrita e criatividade. vamos juntos? clica aqui para participar!
enfim, seguimos. em frente. adiante. com açúcar no mingau e mel sobre as bananas. doce. acolhedor. juntos.
se cuida e fica bem,
Maki! Quer newsletter maravilhosa! Meu... Parabéns! Acho que todo mundo teve vontade de gritar junto contigo, pelo açúcar no mingau, no café, no chá, no suco, enfim, pelo direito de poder comer/tomar algo do jeito que quer por que naquele momento aquilo vai ser basicamente um abraço quentinho e a gente precisa desse abraço, dessa fuga ali no doce, e ta tudo bem usar isso de vez em quando então, meu... Sério, sensacional!