#16 | a inversão entre o teto e o chão | mar aberto
ou: reorganizando a organização desorganizada
tem muitas coisas na minha mente ultimamente. tantas que nem sei muito bem o que escrever. mas falei no Instagram essa semana que tem uma coisa muito preciosa que Joan Didion me ensinou: escrever pra entender o que eu penso.
então, cá estamos.
sinto que a minha organização tá precisando ser organizada. eu tô num daqueles momentos pós-apocalipse pessoal em que tudo parece meio de cabeça pra baixo. me lembrei de Bones, uma das minhas séries preferidas e das poucas que eu vi até o final. no episódio The Doctor in The Photo, o nono da sexta temporada, a Brennan aprende que o cérebro humano leva três dias pra se adaptar a uma situação absurda - tipo quando você coloca um óculos de realidade virtual e vê o chão no teto e o teto no chão.
pra mim, esses três dias tem durado um pouco mais. aos poucos, vejo meus pés reconhecendo o que é embaixo e os meus olhos se adaptando ao que é em cima. a minha bagunça mental voltou a encontrar o seu caminho de clareza no papel, e a minha caneta Bic tem corrido rápido pelas folhas na tentativa de encontrar uma direção.
já falei em algum momento, em algum lugar, como escrever é a maneira mais efetiva que eu encontrei de lidar com o que eu sinto, com o que eu penso, e acho que o meu desafio de agora é transformar essas palavras em mais do que palavras, mas em ação.
tô indo aos poucos. uma adaptação aqui. outra acolá. um novo normal num dia, outro no dia seguinte. mas meu cérebro se adapta ao novo, se adequa, se conforta como pode. as folhas escritas ajudam. os desejos antes adormecidos, e que ganham novos contornos concretos, também. as xícaras de café pelando, que agora acompanham meu dia de trabalho. o peso do cachorro muito maior do que ele mesmo pensa sobre o meu colo.
sempre tive aversão à palavra "priorização", mas agora me vejo refém dela. refém não, parceira. somos amigas, sabe. porque a gente tenta. nem sempre consegue, claro, mas tenta. prioriza e coloca inúmeros lembretes coloridos pela casa na tentativa de não esquecer o que escolheu como prioridade. tem dias que a gente esquece mesmo assim.
me disseram esses dias uma coisa que bateu: "daqui, a gente não leva nada". verdade. não leva mesmo. mas o que a gente deixa? pela primeira vez me peguei pensando em legados. Alexander Hamilton era obcecado por eles e passou a vida tentando construir o seu. ficou. ele foi, claro. mas o legado ficou. taí, na independência de um dos países mais importantes do mundo, se é que dá pra dizer que um país é mais importante que o outro. coisa doida isso tudo.
mas eu... não sei. me peguei pensando qual eu quero que seja o meu legado. parece mais interessante pensar no que eu quero deixar do que no que eu (supostamente) quero levar comigo. talvez eu descubra. se descobrir, vai pra lista de prioridades. ah, se vai.
vai pro post-it também, que eu coloquei no espelho do banheiro. pros lembretes que ativei no meu celular. pros letterings bonitos que eu voltei a fazer no meu bullet journal. vai pra todo lugar.
e a esperança fica, né? de que eu não me esqueça. de que eu me lembre. principalmente, de que eu viva.
a nossa dose de inspiração do dia:
("pare de dizer a si mesmo que você não é qualificado, valoroso ou não tem experiência o suficiente. o crescimento acontece quando você começa a fazer as coisas que você não é qualificado para fazer.")
texto 1: Um dia você terá morrido ontem, Alex Castro. acho que esse é um dos textos mais fortes e marcantes que eu li nos últimos tempos. tô que ele não me sai da cabeça um minuto sequer, o que tem me gerado muitos pensamentos e ideias sobre legado.
texto 2: Adeus ao blog. Viva o Jardim Digital, de Valter Nascimento. outro texto que eu li nas últimas semanas e que ficou muito na minha cabeça. a ideia de cultivar o conhecimento próprio e compartilhar esse processo com o mundo me pareceu extremamente fascinante.
texto 3: Why Side Projects Should Be Stupid, Tobias van Schneider (em inglês). de novo, outro texto que tem me feito pensar muito sobre a maneira como eu tenho lidado com os meus projetos pessoais e o quão custoso é carregar os pesos pesados demais das coisas que não têm peso algum.
é impressão minha ou, como disse a New Plan Journal da última semana, maio tá parecendo o novo dezembro? que mês maluco, com cara de fim de ano, de tudo acontecendo ao mesmo tempo, de meio do ano (!!!!!!!!!), de vida que mudou de repente e tá tentando se encaixar nos eixos. eu hein.
"a busca pelo amor continua, mesmo diante das improbabilidades". essa frase tá num dos primeiros capítulos de Tudo Sobre o Amor, da bell hooks, e é mais uma dessas que não me sai da cabeça. a autora é a escolhida pro mês de maio no navegantes e eu tô muito empolgada pra compartilhar tudo o que tô aprendendo sobre ela com a comunidade. se você quiser vir junto, é só clicar aqui - são só R$ 5 por mês pra fazer parte desse grupo lindo.
por hoje, é isso. sigamos nesse dezembro fora de época, na esperança de um ano novo mais tranquilo.
se cuida e fica bem,