vivendo em marcha lenta num mundo que anda rápido demais
ou ‘o que significa slow living na prática’
eu diria que tive o primeiro encontro com o burnout em 2020. era o ano #01 da pandemia (a gente ainda lembra que isso aconteceu?), e eu administrava seis clientes de produção de conteúdo e redes sociais, sozinha.
eu trabalhava como freelancer, na época, e passava, em média, 14 horas na frente do computador. começava cedo, lá pra base das 08h30 da manhã, e, às vezes, saía só depois das 23h.
é verdade também que, naquele tempo, eu fazia um curso que passou a ter aulas online por causa do lockdown. mas, mesmo nas noites livres, eu usava o tempo ‘extra’ pra trabalhar. sábados e domingos não saíam ilesos, e eu também passava algumas horas ali, escrevendo, criando conteúdo ou adiantando coisas pra semana.
no fim daquele ano, eu tava tão absolutamente exausta de tanto trabalhar, fora o medo e o estresse de viver uma pandemia, que eu achei que o meu corpo não ia aguentar. eu forcei uma parada brusca, larguei tudo e foi passar mais de uma semana no meio do mato, num chalé com os meus amigos, pra comemorar o ano novo.
esse tempo sem acesso à internet e foi tudo o que eu precisava.
corte seco pra 2022, ano da minha mudança pro Canadá, e eu flertei com o burnout de novo. dessa vez, num grau um pouco mais sério.
mudar de país não é simples e quem diz que é fácil e lindo tá mentindo descaradamente. naquele momento, o medo de ficar sem dinheiro me levou a extremos. eu aumentei de 6 pra oito o número de clientes e tirei só dois dias de férias pra sair de São Paulo e me estabelecer aqui.
comecei a pós em marketing digital uma semana depois de chegar, tinha o meu trabalho, tava cuidando do meu cachorro e ainda precisava lidar comigo mesma e todas as nuances de começar a vida num lugar absolutamente novo, numa cultura completamente diferente da minha.
eu contava os dias pro recesso do fim do ano, quando todos os meus clientes parariam por 15 dias pras festas de Natal e Ano Novo.
um desses clientes, porém, decidiu de última hora que não ia parar.
e eu caí no choro numa reunião de câmera aberta.
isso nunca tinha acontecido antes, sempre me considerei uma pessoa extremamente profissional e certinha (até demais) quando o assunto é trabalho. mas eu não aguentei. o nível de exaustão tava passando dos limites e eu mal tinha forças pra levantar da cama.
tava fazendo tudo no automático.
‘demiti’ aquele cliente dois dias depois, simplesmente porque eu não teria condições de continuar trabalhando no período de recesso. foi ali que eu entendi que, se não tirasse o pé do acelerador e me colocasse como prioridade, ninguém faria isso por mim.
sozinha, em outro país, longe da minha (até então) rede de apoio mais próxima, lidar com os efeitos de um burnout sério poderia ser bem catastrófico.