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se você não é fã de Bridgerton, eu sinto muito. talvez esse texto não seja pra você. ou talvez seja exatamente o que você precisa pra começar a assistir à série da Netflix assim como toda e qualquer pessoa sã da minha timeline.
(é muito provável que ninguém fale sobre outra coisa hoje.)
mas aproveitando o embalo, eu tenho essa mania de sempre conectar tudo e qualquer coisa com o processo de escrita e não foi diferente com Bridgerton. afinal, as três primeiras temporadas giram em torno da fofoqueira da alta sociedade de Londres.
verdade seja dita, talvez eu esteja caçando pelo em ovo (é provável), mas tal qual sempre ver o copo como meio cheio, eu gosto de pensar que até mesmo superproduções de streamings podem nos ensinar alguma coisa sobre o trabalho criativo.
vamos de contexto?
quando eu era criança, lembro de pensar que a escrita era a coisa mais maravilhosa do planeta. muitos anos mais tarde, me vi desfalecida de medo de que a escrita fosse sumir, só porque as fotos, vídeos e áudios tavam dominando o mundo uma rede social por vez. hoje, com a cabeça mais no lugar (obrigado, terapia) e a experiência tornando a minha bagagem pessoal mais pesada (cof idade cof) eu sigo acreditando que a minha visão infantil não tá tão longe da realidade assim.
fora isso, por se passar nos anos 1800, Bridgerton deixa óbvio o quanto a escrita é não só uma válvula de escape criativa pra muita gente (como o Colin com os seus diários), mas também o principal meio de comunicação entre as pessoas.
muito antes de vídeos rápidos, mensagens de texto e até emails, a única forma de alguém saber sobre outra pessoa era escrevendo uma carta e recebendo uma resposta. e a única maneira de qualquer um saber sobre o mundo era lendo o jornal.
contexto(s) dado(s), vamos de análise.
a fofoqueira e a escrita
1.informação é poder
seja hoje, seja ontem, seja num futuro muito longínquo, essa máxima nunca vai deixar de ser verdade. informação é poder e quem tem acesso à informação é, de fato, mais poderoso do que quem não tem pela simples capacidade de tomar decisões embasadas em conhecimento.
e ponto final.
Lady Whistledown, a.k.a Penélope Featherington, é considerada invisível pela sociedade por sua aparência e pela família, que tem uma quantidade enorme de escândalos. por isso, ela se camufla de um jeito que, ao contrário da superfície, faz com que ela seja a pessoa mais poderosa daquele cotexto. ela consegue informação sobre as pessoas daquele meio e sabe como manipulá-la pra gerar um certo resultado.
quer um exemplo? na segunda temporada, quando aparece na cidade uma nova modista roubando os negócios de Madame Delacroix, algumas linhas sobre o assunto no folheto Lady Whistledown fazem com que a novata vá à falência.
(temos aí um exemplo da primeira permuta da história? talvez. chorrindo)
Penélope força a Rainha a escolher um diamante, pressiona a sociedade por eventos grandiosos e ainda influencia a opinião pública sobre os caminhos da sociedade. o que me leva ao meu próximo ponto.
2.escrita é influência
ou melhor, quem escreve influencia. isso não deveria ser novidade pra absolutamente ninguém, mas quem escreve (grava vídeo, stories, faz um tuíte, etc.) influencia o seu círculo. Lady Whistledown não é diferente.
e aí vai uma informação complementar:
décadas atrás, o jornalismo era conhecido como o QUARTO PODER justamente pela influência que exercia no poder público, lado a lado com os outros três poderes que definem um governo democrático: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. o que era publicado em jornais e revistas tinha um papel gigantesco na forma como as pessoas encaravam (e ainda encaram, porém com mais ceticismo hoje) os seus governos e até a vida no geral.
saindo do jornalismo e entrando no cinema: a criação de vilões nos filmes de heróis, muitas vezes de etnias e raças específicas, também tinha esse papel de influenciar a opinião pública sobre certo assunto. (por um tempo, foram pessoas de origem árabe, chineses e russos - qualquer semelhança com os ‘inimigos’ dos Estados Unidos não é mera coincidência.)
3.uma mulher com voz incomoda muita gente
uma mulher com voz e poder incomoda muito mais. estamos falando da alta sociedade e de pessoas com muito dinheiro, inclusive a Rainha da Inglaterra, porém independente da época, do contexto ou do assunto, uma mulher com voz incomoda, mesmo, muita gente. até mesmo o marido.
se a série terminar como o livro, Colin pede pra que Penélope desista da coluna de fofocas não só porque não gosta do que ela escreve como também porque sente inveja da carreira e o legado que ela construiu. na obra original da Julia Quinn, ela passa a apoiar a carreira de escritor dele, desiste de Lady Whistledown, e decide escrever uma autobiografia mais pra frente na história.
é verdade que Penélope não teve papas na língua pra falar sobre as pessoas do seu meio, e que muitas vezes ela escreveu com raiva e por pura vingança. isso é bem óbvio ao longo da série.
(o que só reforça a minha política de nunca, nunca, nunca, postar quando tô com raiva.)
mas ela é vista como um incômodo. primeiro, por escrever o que escreve. segundo por ser mulher ganhando o seu próprio dinheiro numa época em que as mulheres eram vendidas pelos pais pro futuro marido (ninguém vai me convencer que ‘dote’ significa outra coisa). terceiro, porque ela influencia e tem um papel gigante na sociedade londrina.
bora amarrar tudo com escrita?
ok, se a gente for sincera, nem tudo isso diz respeito só a quem escreve. mas eu acredito que, independente do formato, todo mundo começa a descobrir a sua voz escrevendo alguma coisa - que seja um roteiro de vídeo.
encontrar a sua voz pode levar tempo, prática e, principalmente, paciência, mas pode garantir a sua sobrevivência num meio hipersaturado de gente que pensa igual. ou servir como uma alavanca pra grandes mudanças, sejam pessoais, sejam societárias.
talvez eu esteja viajando? talvez.
mas juro que faz sentido.
acho que nem preciso reforçar que o meu nível de engajamento com a internet hoje vai ser quase zero porque todo mundo merece um pouco de escapismo e uma festa de Bridgerton com coxinha, bolinha de queijo, pipoca e vinho com as amigas.
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é isso por hoje.
se cuida e fica bem,